segunda-feira, 3 de agosto de 2009

120 dias de Luanda

Agora que o regresso a casa (por uns breves dias..) está próximo, é chegada a altura de fazer um brainstorm ao que foi esta estadia.

Se é certo que 120 dias não são muito tempo, e que em circunstancias normais até passam muito rápido (já é quase Natal outra vez!! yupiiii :D ), a verdade é que quando estamos fora do nosso ambiente parece que o tempo brinca connosco.. e um mês tanto passa num piscar de olhos como é tempo suficiente para cortar os pulsos por diversas vezes, os nossos e os dos outros :P

Quando vim para Angola, quando decidi que vinha, não sabia bem o que estava à espera de encontrar.. tinha uma ideia, claro, de todos os comentários que tinha ouvido, de todas as histórias que tinha lido, nem todas boas ou positivas, mas, ainda assim sentia-me capaz, sentia que seria até uma boa oportunidade, motivo pelo qual sacrifiquei algumas coisas para me atirar de cabeça  e mandar-me para aqui. Pensava que ia ser bom, uma experiencia de vida, tanto a nível profissional como pessoal, pensava que não era apegado ao meu cantinho, à minha rotina, que não precisava disso e que queria era aventura. Basicamente tinha uma noção idealizada/romantizada de um “eu” que cada vez mais duvido que seja real. Continuo a gostar dessa visão do meu “eu”..mas tambem queria ser o Brad Pitt e não sou né?

A verdade é que a realidade Angolana torna-se desgastante ao fim de algum tempo, principalmente quando damos por nós a pensar no que pode correr mal a cada instante, e aqui as probabilidades de qualquer coisa correr mal são consideráveis. Os assaltos constantes ao mínimo descuido (tipo..andar na rua, que loucura..), a insegurança em todos os momento que não estamos protegidos por uma vedação e seguranças armados com AK-47, o stress de andar na estrada de carro e de dar um ligeiro toque noutro carro, em que sendo o “pula” somos automaticamente culpados, a fobia à policia que claramente o lema “proteger e servir”  só se aplica se ganharem alguma coisa com isso, tudo isto acaba por entrar dentro de mim e sentir falta das pequenas coisas que nunca pensei que iria sentir.

Andar de carro com o vidro aberto, musica nas alturas, seja no meio do Porto ou no caminho pela praia até casa.. Andar pela baixa sem olhar para todos os lados, com o leitor de MP3, óculos de Sol, a falar ao telefone e com o relógio no pulso.. estas pequenas coisas tão triviais fazem falta.. e quando vim para cá não pensei nisso. Sentir falta dos amigos de sempre, dos cafezinhos e das noitadas, de casa, do cão, da net, das séries, da família até, isso pensei que pudesse sentir, estava “preparado” para isso, mas não me lembrei das pequenas coisas.. e acreditem, fazem falta.

Outro ponto preocupante de uma estadia longa em Angola, são os cuidados médicos. Eu não sou propriamente hipocondríaco, mas pelos relatos que tenho conhecido, se alguém aqui fica doente com alguma coisa que não seja malária, esta definitivamente fodido.

Em Portugal, apesar de tudo (sim, sim..eu conheço a classe médica Portuguesa..tenham medo!), eu tinha alguma confiança que se tivesse de ir ao Hospital com algum problema, que seria correctamente diagnosticado e que seria tratado de forma adequada, assim, House style. Eu admito que as coisas nem sejam assim, mas era assim que eu pensava e isso deixava-me descansado, agora aqui.. em que as receitas variam do paracetamol para o %&$%&#%# dos comprimidos da malária, não me sinto assim tão confiante.. não ter a mummy para tratar de mim, nem um sistema de saúde de confiança..fico preocupado..claro que fico :\

“Doi-me a cabeça..será que é malária? e doi-me a garganta..pode mesmo ser malária..mas se calhar não é, não me dói o corpo..será que é uma constipação? Também estou meio enjoado e com problemas intestinais..será que foi do gelo e do excesso de álcool do fim de semana ou comi alguma coisa estragada?” e a cada momento lá começa o goldinho a stressar e a ter crises de ansiedade que vai morrer e ninguém vai descobrir porquê.. .. .. ..é, não é simpático.

Acho que já dei uma pequena ideia porque é que 120 dias em Luandase tornam extenuantes, mesmo para quem está com uma qualidade de vida muito superior à de quase toda a gente.. pode ser uma questão de hábito, mas pelo que dizem, a cada etapa de 4 meses torna-se cada vez mais complicado aguentar..

Mas nem tudo é mau, o clima é óptimo, o convívio com os colegas é diferente do que pensava encontrar mas é bastante bom, tanto nas noitadas como nas churrascadas. A um nível mais pessoal esta estadia trouxe ainda mais desenvolvimentos..

O menino mimado está a viver sozinho, faz o jantar, limpa a casa, trata da roupa, dá de comer aos filhos e ainda os ajuda nos TPC.

(é verdade até à parte de fazer o jantar :D)

Para além de uma certa independência conquistada, que já era altura sem duvida, com 4 meses de vida num sitio onde faltam tantas coisas, as prioridades para o futuro alteram-se.. se calhar há coisas que devia ter dado mais importância, se calhar há outras a que não devia ter dado nenhuma. Estabelecer objectivos (4 meses de cada vez..) e ter uma ténue linha orientadora do que quero para mim, sem desistir nem me acomodar.

Se fosse hoje embora, e não voltasse, certamente teria sido uma boa experiencia, quanto mais não seja pelo safanão que deu na minha vida. Agora..voltar para outros 4 meses.. não sei quais serão os custos que isso terá.. só espero que no fim desse prazo continue a achar que foi positivo, porque no dia que isso não acontecer.. deixa de fazer sentido cá estar :)

Acho que deu para perceber o que foram para mim estes 4 meses, nada que vocês não soubessem já, mas assim fica aqui para a eternidade :)

PPl..vou tentar estar um bocadinho com TODA a gente até dia 23, digam alguma coisa para combinarmos, têm o meu número (alguns hehe) e o meu mail..não se esqueçam de mim!!  afinal..

I’m really lovely..underneath it all :)*

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